Os primeiros nove dias, segundo Will Goodge, pareciam um “pesadelo em loop”, um ciclo interminável de correr e comer, correr e comer até que finalmente chegava a hora de dormir.

Exceto que quando tentava fechar os olhos, o sono raramente era restaurador, apenas febril e agitado. Alucinações tornaram-se uma ocorrência desagradável e regular – “algo como estar sonhando, mas acordado ao mesmo tempo”, diz Goodge – e uma sensação profunda de dor havia se instalado em seus músculos e ossos.

Neste ponto, o influenciador britânico e atleta de endurance mal havia arranhado a superfície de sua tentativa de quebrar o recorde de corrida através da Austrália. Milhares de quilômetros de asfalto ainda estavam à sua frente, e o tormento parecia que duraria para sempre.

Will Goodge completes the Record Down Under. 3700km. 35 Days.

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— Ross Mackay (@RossMackay111) May 19, 2025

“Eu estava tendo pesadelos sobre o que estava fazendo, e me sentia preso”, conta Goodge à CNN. “Era extremamente claustrofóbico. Mesmo estando lá fora, em uma grande extensão – não poderia haver mais espaço ao redor. Mas por alguma razão, eu me sentia muito confinado e a noite parecia se arrastar por muito tempo.”

No décimo dia de sua tentativa de recorde, no entanto, Goodge virou a página. Seu corpo começou a se adaptar, as noites começaram a parecer mais curtas, e os aproximadamente 110 quilômetros que corria todos os dias, embora nunca fáceis, gradualmente começaram a parecer mais administráveis.

De um lado ao outro

No final, Goodge teve o que ele chama de “cinco dias bons” consecutivos. Tendo partido de Perth, na costa oeste da Austrália, ele chegou à Praia de Bondi, em Sydney, no dia 19 de maio, para uma multidão de centenas de pessoas, anunciando que havia completado os 3.841,4 quilômetros em 35 dias.

Isso equivale a 110 quilômetros – cerca de duas maratonas e meia – por dia durante mais de um mês.

Se ratificado, o feito de Goodge estabelecerá o recorde do tempo mais rápido correndo através da Austrália, superando o tempo de Chris Turnbull em 2023 de 39 dias, oito horas e um minuto.

“É bastante avassalador”, diz Goodge sobre completar a corrida. “É definitivamente êxtase porque você obviamente passou pelo que poderia chamar de experiência traumática, por assim dizer.”

“Sair do outro lado é como uma grande liberação de emoção. Você está obviamente extremamente feliz, está emotivo. Eu estava chorando um pouco no final, especialmente quando estava fazendo meu discurso. Há um enorme peso que é tirado dos seus ombros… Eu estava simplesmente confuso, sobrecarregado, feliz, um pouco triste. Foi um pouco de tudo.”

Homenagem à mãe

Goodge marcou o fim de seu desafio colocando um buquê de flores na orla da Praia de Bondi em memória de sua mãe, que faleceu de linfoma não-Hodgkin – uma forma de câncer que afeta o sistema linfático – em 2018.

Ele estava arrecadando dinheiro para três instituições de caridade contra o câncer no Reino Unido, EUA e Austrália, inspirando-se na doença de sua mãe durante os momentos mais árduos da corrida épica.

“Ver ela lutar contra o câncer da maneira que lutou – e obviamente eu estive com ela durante os cuidados de fim de vida – me deu uma ignorância ao meu próprio sofrimento”, diz Goodge. “Eu vi alguém passar por algo pior, e o fato de eu escolher fazer esse tipo de coisa significa que quando fica difícil, posso pensar nisso ou pensar na minha mãe.”

“Não tenho motivo para reclamar ou choramingar ou gemer, apenas continuar seguindo em frente. E sinto que ela está comigo lá a cada passo do caminho.”