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Boletim de ocorrência do caso Ngange cita um único PM, que ‘atirou para se defender’


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Por Catarina Duarte – Ponte Jornalismo

O 3º sargento da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Paulo Júnior Soares de Carvalho, foi afastado das funções operacionais após atirar contra o vendedor ambulante Ngange Mbaye, de 34 anos. Na versão apresentada por policiais militares ao 8º DP (Brás), o estrangeiro teria atentado contra a vida do agente da PM e, por isso, foi alvo de um disparo fatal.

O relato, no entanto, omite as agressões que Ngange sofreu pelos agentes, que o atingiram com golpes de cassetete. A versão também é contestada por amigos que estavam com o ambulante no momento da abordagem.

A morte ocorreu na última sexta-feira (11), na rua Joaquim Nabuco, no bairro do Brás, região central da capital. À Ponte, amigos contaram que Ngange agonizou por 12 horas até receber atendimento médico. Levado à Santa Casa de Misericórdia, ele não resistiu aos ferimentos.

A reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência. Nele, apenas dois policiais militares são identificados. O sargento Paulo Júnior, que atirou contra Ngange, e Andressa Gonçalves Diego Rodrigues, identificada como condutora — que é quem apresenta a ocorrência na delegacia. O boletim chega a citar que estiveram no 8º DP “integrantes da Polícia Militar”, “informando que colegas de farda” foram alvo de uma ação do senegalês “que atentou contra a vida do policial”.

Ndiogou Gueye, 34, que estava ao lado de Ngange no momento da abordagem, rebate a versão da PM. É ele quem aparece de camiseta amarela ajudando o vendedor a carregar as mercadorias em um vídeo divulgado pela imprensa. O vídeo está disponível apenas no YouTube, pois tem restrição etária devido às imagens de violência.

O amigo conta que Ngange tentou proteger sua mercadoria de uma possível apreensão pelos policiais militares, o que motivou a violência por parte dos agentes. O ambulante foi agredido com cassetetes, conta Ndiogou. O vídeo mostra essa agressão. As imagens também registraram o senegalês pegando um objeto no chão e indo na direção de dois policiais. Depois disso, é possível ver o sargento com a arma em punho e ouvir um disparo. Ngange ainda corre por alguns metros carregando as mercadorias.

Na sequência, o senegalês cai em uma calçada e é cercado por policiais militares. “Ele é um pai de família. Tem mulher, filha, pai, mãe. Ele ajudava a criança, a casa dele. Agora quem vai ajudar?”, pergunta Ndiogou.

Ambulante vivia para sustentar família

Ngange chegou ao Brasil há 10 anos. O senegalês nasceu na região de Thiès, uma das 14 que dividem o país africano. No Brasil, chegou a montar uma loja, mas os negócios não vingaram. Era como ambulante que ele sustentava a filha de quatro anos e a esposa, que vivem no Senegal. O dinheiro que guardou nos últimos anos custeava a construção de uma casa em seu país natal.

Naquela sexta-feira (11), Ngange foi à mesquita localizada no Brás. O ambulante morava no bairro e conhecia todos por ali. A morte deixou a comunidade senegalesa em choque e com medo.

PM

Protesto contra a morte de Ngange Mbaye no sábado (12), reprimido pela PM com bombas de gás lacrimogêneo (Foto: Brasil de Fato)

Khady Dioum não conseguiu conter as lágrimas durante o protesto que pediu justiça pela morte do estrangeiro. Em frente à prefeitura de São Paulo, a senegalesa precisou ser carregada por pelo menos quatro pessoas quando, em lágrimas, desabou. A manifestação ocorreu na segunda-feira (14) e terminou com uma reunião entre o cônsul honorário do Senegal em São Paulo, Babacar Ba, e o vice-prefeito de São Paulo, coronel Ricardo Mello Araújo (PL).

“Hoje nós vamos levar o corpo dele para o Senegal. Quem vai pagar isso para nós [senegaleses]? A polícia poderia levá-lo para a cadeia, pode atirar no pé. Por que atirar na barriga dele para matar?”, protestou Khady.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) encaminhou manifestações formais ao Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), à Corregedoria da Polícia Militar e à Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), cobrando a apuração rigorosa dos fatos, com especial atenção às circunstâncias que levaram à morte de Ngange.

PM participava da Operação Delegada

Paulo Júnior participava da Operação Delegada, uma gratificação dada a policiais militares e civis que atuam no horário de folga reforçando o policiamento na cidade. A operação foi instituída em 2009 pelo prefeito Gilberto Kassab (à época no Democratas, hoje PSD). A atividade foi estabelecida na lei 14.977/2009 e regulamentada no decreto 50.994, do mesmo ano.

O convênio entre a prefeitura e o governo de São Paulo tem como foco o combate ao comércio ambulante irregular na capital. Os agentes usam farda e equipamentos da PM durante o serviço. O sargento Paulo Júnior não usava câmera corporal quando atirou contra o senegalês.

A Ponte procurou a SSP-SP questionando a abordagem, o boletim de ocorrência com a citação de apenas um agente e quem é o delegado responsável pelas investigações. Em nota, a pasta não respondeu aos questionamentos. O texto se limita a dizer que Paulo Júnior foi afastado das funções operacionais e que a apuração está com o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Leia a nota da SSP-SP na íntegra

A Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) e afastou das atividades operacionais o agente envolvido. A ocorrência foi registrada no 8º Distrito Policial como morte decorrente de intervenção policial e tentativa de homicídio e é investigada pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O policiamento na região foi reforçado.

A SSP reforça que todos os casos de morte em decorrência de intervenção policial são rigorosamente investigados pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento das corregedorias, Ministério Público e Poder Judiciário. As forças de segurança não compactuam com desvios de conduta e pune com rigor aqueles que infringem a Lei ou violam as normas e procedimentos de suas corporações.

 



Fonte: ICL Notícias

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