A cidade de Bonn, na Alemanha, sedia entre os dias 16 e 26 de junho a 62ª reunião dos órgãos subsidiários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

Conhecido como SB62, ou Conferência Climática de Bonn, o encontro reúne negociadores de mais de 190 países para definir avanços técnicos e diplomáticos que vão orientar a COP30, marcada para novembro de 2025, em Belém do Pará.

Com status de presidência designada da próxima Conferência do Clima, o Brasil terá uma participação central no encontro, com foco em agendas como adaptação climática, financiamento internacional, mercados de carbono e o chamado “roadmap Baku-Belém” — referência à transição entre a COP29, no Azerbaijão, e a futura COP brasileira.

Segundo a agenda provisória divulgada pela UNFCCC, os temas centrais da SB62 incluem o Global Goal on Adaptation (GGA), a regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris e os mecanismos de financiamento climático — pontos considerados essenciais para o sucesso da COP30 em Belém.

Negociação técnica e diplomacia brasileira

A delegação brasileira será composta por representantes dos Ministérios das Relações Exteriores e do Meio Ambiente, além de técnicos e observadores da sociedade civil. A diretora do Departamento de Clima do Itamaraty, Liliam Chagas, é uma das principais articuladoras da posição do Brasil nas negociações técnicas. Também são esperados encontros multilaterais com os blocos BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) e G77 + China, ambos com apoio público à liderança brasileira na COP30.

O diplomata André Corrêa do Lago, nomeado pelo governo Lula como presidente da COP30 em janeiro deste ano, também participa da conferência em Bonn. Segundo o Itamaraty, ele deve apresentar as diretrizes da futura presidência brasileira e defenderá instrumentos como o Tropical Forests Forever Facility (TFFF), fundo global de US$ 250 bilhões para proteção de florestas tropicais.

Agenda da SB62: adaptação, carbono e transparência

A programação oficial da UNFCCC prevê ao menos quatro frentes prioritárias nas negociações de Bonn:

• Meta Global de Adaptação (GGA): Países devem apresentar propostas sobre indicadores e compromissos concretos para adaptação climática, um dos temas centrais da COP28 que segue em aberto;
• Artigo 6 do Acordo de Paris: Regras sobre os mercados de carbono internacionais, especialmente os mecanismos voluntários (6.2 e 6.4), ainda estão em fase de regulamentação;
• Transparência e implementação: Relatórios técnicos sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e novos compromissos climáticos serão debatidos ao longo da semana;
• Financiamento climático: Avanços no “roadmap” entre a COP29 e a COP30 devem incluir novas metas para financiamento de países em desenvolvimento e mecanismos de perdas e danos.

Presença de indígenas e agronegócio

Organizações brasileiras de diferentes setores também estarão presentes. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) confirmou a participação de representantes em painéis sobre agricultura de baixo carbono e monitoramento de NDCs. Lideranças indígenas brasileiras, que vêm atuando nas conferências da UNFCCC desde 2022, devem defender novamente maior participação nos mecanismos nacionais de adaptação. Sinéia do Vale, coordenadora do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas e enviada especial da COP30 para Povos Indígenas, é uma das lideranças que já está em Bonn para a conferência.

Expectativas para a COP30 em Belém

A SB62 é considerada uma etapa preparatória crítica para a Conferência do Clima de Belém. Segundo a UNFCCC, os resultados de Bonn ajudarão a definir o escopo e os compromissos que serão debatidos na capital paraense em novembro, incluindo o possível anúncio de novas metas globais para adaptação e a estruturação de instrumentos financeiros inovadores.