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Caixa tem em áreas estratégicas 11 nomes que foram das gestões Temer e Bolsonaro

Com a vitória de Lula na eleição presidencial de 2022 aqueles que reconhecem a importância da Caixa para a execução de políticas sociais no Brasil ficaram otimistas. Afinal, nos anos anteriores o banco público trilhou um caminho bem diferente, em nada parecido com a instituição que fez história por apoiar políticas voltadas para a população mais necessitada.

A partir de 2016, o governo Michel Temer colocou em prática sua agenda privatista, o que representou para a instituição a venda de ações da Petrobras, IRB e Banco Pan, além da abertura de capital da Caixa Seguridade.

Na gestão de Jair Bolsonaro, a Caixa foi marcada por denúncias de assédio moral e sexual enquanto Pedro Guimarães foi presidente. Além disso, no governo anterior houve estímulo ao endividamento de famílias vulneráveis com a concessão de crédito consignado do Auxílio Brasil, algo que gerou prejuízo bilionário.

A nomeação de Maria Rita Serrano para a presidência, no início do governo Lula, foi considerado um sinal de que a Caixa voltaria ser um banco com atuação social. Mas essa correção de rota durou pouco: dez meses após assumir ela foi substituída por Carlos Vieira, nome indicado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em troca de apoio na votação dos projetos do Executivo.

Vieira, que trabalhou como consultor da presidência da Caixa na gestão Temer, é o nome mais visível de uma lista com outros personagens ligados a governos anteriores que agora voltaram a ocupar áreas estratégicas do banco. O ICL Notícias identificou 11 dessas figuras cujo histórico nada tem a ver com o que se poderia esperar de um governo progressista.

“Havia uma grande expectativa de uma mudança radical na política de Recursos Humanos e de gestão na Caixa, com a substituição daqueles que serviram e implementaram a política do medo, do assédio nos empregados e sucateamento da empresa”, disse ao ICL Notícias o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Sergio Takemoto. “Essas mudanças não ocorreram, com a permanência de muitos que foram responsáveis por essa política”.

Para o sindicalista, com a troca de comando, feita para atender a política de aliança do governo, o loteamento da Caixa ficou mais evidente, trazendo mais frustrações e preocupações. “A Fenae lamenta o uso da Caixa como moeda de troca, pois acreditamos que o banco é um patrimônio da população brasileira e deve servir ao povo. Continuaremos a lutar pela Caixa pública e a serviço do povo”, disse.

Veja abaixo os nomes que atualmente ocupam cargos importantes no banco e cujos perfis parecem não combinar em nada com a atuação em favor do povo brasileiro mais necessitado, como seria de se esperar do governo liderado por Lula:

Carlos Vieira, presidente da Caixa

Carlos Vieira: atual Presidente da Caixa. Entrou no banco trabalhando na Paraíba e se aposentou em 2017. Durante o governo da ex-presidente Dilma, foi diretor de desenvolvimento institucional do Ministério das Cidades, que na época estava sob comando de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Foi consultor do ex-presidente do banco Gilberto Occhi (2016-2017), indicado por ele para ser presidente da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), fundo de pensão dos empregados da Caixa (2016-2019). Depois, assumiu uma diretoria no banco BRB, indicado pelo governador Ibaneis Rocha. Foi indicado para ser presidente da Caixa após o governo não concordar com o nome de Gilberto Occhi, indicado por Arthur Lira.

Michel Temer e Gilberto Occhi

Gilberto Occhi: ligado ao PP, foi nomeado conselheiro de administração da subsidiária Caixa Cartões Pré-pagos, em dezembro de 2023, logo após a posse de Carlos Vieira.

No ano passado, ele havia sido retirado por uma articulação do próprio PT da diretoria do Sebrae, onde atuava desde quando saiu do Instituto de Gestão estratégica de Saúde do DF (2021). Occhi foi ministro da Saúde (2018/2019) e presidente da Caixa (2016/2018) no governo Temer. Também ministro das Cidades e da Integração Nacional no governo Dilma.

Em julho do ano passado, o jornalista Aguirre Talento, do UOL, noticiou que uma auditoria interna da Caixa apontou que Occhi “agiu para favorecer interesses privados de aliados políticos e familiares enquanto presidia a instituição, entre junho de 2016 e abril de 2018”. Ligado ao PP, ele foi indicado por integrantes do partido para voltar a presidir o banco estatal mas acabou sendo vetado pelo governo.

Em 2018, Occhi já tinha sido acusado de ter liberado recursos para a compra de casas lotéricas, favorecendo seu filho, Gustavo Occhi, e seu enteado, Diogo Andrade dos Santos. Na época, Occhi era superintendente nacional de Gestão da Caixa no Nordeste.

No mesmo ano, o jornal O Globo denunciou que o Ministério das Cidades liberou em 2014, quando Occhi era titular da pasta, R$ 34 milhões para projetos tocados pela empresa de um parceiro de negócios do filho e do enteado. A GP Engenharia, do empresário Geraldo Majela de Menezes Neto — definido por Occhi como “amigo da família” –, foi escolhida para construir 610 moradias para famílias de baixa renda, dentro do programa Minha Casa Minha Vida, em Tobias Barreto.

Michel Temer e Nelson de Souza

Nelson de Souza: empregado de carreira da Caixa, já aposentado. Por indicação do presidente da Caixa, foi nomeado no início de 2024 para diretor da Cartões Elo, empresa onde o banco tem participação acionária. Foi presidente do BNB (2014-2016). Em 2018, foi nomeado presidente da Caixa.

Pablo Sarmiento: nomeado por Carlos Vieira para ser Presidente da subsidiária Asset Caixa, era amigo e foi indicado por Pedro Guimarães para ser presidente da Caixa Capitalização, subsidiária do banco que fica no Rio. No final de 2022, Pablo foi retirado do cargo pelo Conselho de Administração da empresa.

Ele estava trabalhando com o prefeito Eduardo Paes quando foi chamado por Carlos Viera para ser presidente da Asset da Caixa. Sarmiento foi indicado pelo deputado federal Dr Luizinho, do PP do Rio.

Adriano Assis Matias: atual vice-presidente de rede, foi diretor de Tecnologia na gestão de Pedro Guimaraes.

Laércio Roberto Lemos de Souza: vice-presidente de Tecnologia e Digital. Indicação do PP e do Republicanos. Estava como assessor do Ministro do Turismo.

Marcelo Campos Prata: trabalhou nas gestões de Occhi e Nelson, nomeado para vice-presidência de Logística, Operações e Segurança em 2023. Foi exonerado no começo de 2024. O cargo está vago.

Tarso Duarte de Tassis: vice-presidente de Negócios de Atacado. Indicado pelo PP, também está envolvido na negociação com o Banco Master, por ser conselheiro de administração na Caixa Asset.

Paulo Rodrigues de Lemos Lopes: vice-presidente de Sustentabilidade, indicado pelo PP fluminense. Faz parte do grupo do Bolsonaro e Pedro Guimarães no Rio.

Mario Ferreira Neto: atual diretor da Caixa Cartões Pré-pagos, foi diretor de Marketing da gestão de Gilberto Occhi. Estava no BRB, até ser nomeado para o cargo atual em 2023.

Gustavo Portela: indicado para a diretoria de investimentos da Funcef em 2024, foi diretor na gestão de Gilberto Occhi.

O presidente da Fenae diz qual é, segundo os funcionários, o maior risco para o banco em uma gestão com figuras assim, oriundas dos governos Temer e Bolsonaro: “A transferência de operações da Caixa para subsidiárias, como loterias, penhor, gestão de ativos, tecnologia, que para nós significa a privatização desses serviços, além da política de recursos humanos”, lamenta Sérgio Takemoto.

Não há dúvida: é um cenário bem diferente daquele que os servidores do banco imaginaram que teriam quando foi confirmada a vitória de Lula na corrida à Presidência da República.

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