Um episódio inusitado envolvendo a recarga de um veículo híbrido viralizou nas redes sociais recentemente. Um motorista foi flagrado conectando seu BYD King a um poste de iluminação pública no bairro Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A cena gerou polêmica e alertas de especialistas sobre os riscos da prática.
No vídeo divulgado, é possível ver o veículo estacionado na via pública com um cabo de recarga improvisado ligado diretamente à base do poste, caracterizando o chamado “gato” de energia. Trata-se de uma ligação clandestina à rede elétrica, sem autorização. Mas além dos claro desrespeito, há algum risco ao carro?
O modelo é um sedã-médio híbrido plug-in (PHEV), disponível em duas versões, GL e GS. Nos dois casos há um motor 1.5 aspirado associado a um elétrico de 179 cv ou 197 cv. Dessa forma, a potência combinada é de 209 cv no GL e 235 cv no GS. Há diferença na bateria. O modelo de entrada tem uma unidade de 8,3 kWh, enquanto o top de linha possui uma de 18,3 kWh.
Segundo a BYD, o King pode fazer até 16,8 km/l na cidade (motor a combustão) e o equivalente a 44,2 km/l no modo elétrico, além de uma autonomia combinada de 1.175 km. Num Wallbox, o tempo de carregamento pode ser de 2,5h, enquanto numa tomada 220V pode levar mais de oito horas.
Mas e nesse caso do gato, como fica? A CNN questionou a BYD sobre os riscos de tal prática. A marca chinesa, claro, condenou o uso de ligações clandestinas. “Além de ilegais, são extremamente perigosas. Podem causar acidentes graves e trazer sérios riscos aos bens públicos e privados”, disse em nota.
A opinião é compartilhada com Clemente Gauer, diretor e membro do Conselho da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). “Quando se improvisa uma tomada para uma estação de recarrega de um carro elétrico, a vulnerabilidade não mora dentro do veículo, mas nos cabos e conexões que compõem a gambiarra. Cabos subdimensionados, bornes frouxos ou adaptadores de viagem não suportam 12-16 A contínuos por horas: podem sobreaquecer, gerar arco elétrico e, em casos raros e extremos, provocar incêndio. Se o dano atingir o veículo, a montadora dificilmente cobrirá a reparação”, explica.
Gauer também questiona se de fato houve carregamento do carro ou foi apenas uma encenação. Isso porque os carros elétricos necessitam de uma instalação com aterramento para iniciar a recarga.
“Sem ver o circuito completo, é impossível dizer se havia carga real ou encenação para cliques. Ainda assim, é plausível que tenham usado duas fases de uma rede 220/380 V e um terra, resultando em tensão típica. Independentemente do truque, o risco real repousa na improvisação: cabos expostos à chuva, sem dispositivos de segurança elétrica, sem bitola correta, prontos para falhar no pior momento. Não vale o risco“, alerta.
A BYD explica que esse gato é um furto de energia e descumprimento das normas técnicas NBR 5410 e NBR 17019, que tratam das regras para recarga de carros.
“O carregador – seja ele portátil, wallbox ou DC – deve ser utilizado em uma infraestrutura elétrica dedicada e com as proteções exigidas pela ABNT. A BYD instrui os seus clientes a seguir as normas técnicas para a instalação e utilização dos carregadores – tanto domésticos quanto públicos.”
De acordo com artigo 155 do Código Penal Brasileiro, subtrair energia elétrica por meio de ligação clandestina é crime de furto, com pena prevista de um a quatro anos de reclusão, além de multa. Além da ilegalidade, tal prática pode causar curtos-circuitos, sobrecarga elétrica e incêndios.
Fonte: CNN Brasil