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Cunha disse em delação rejeitada que comprou votos para Hugo Motta, provável sucessor de Lira

Por Felipe Bachtold e José Marques

(Folhapress) – Em sua fracassada tentativa de fechar um acordo de delação na Operação Lava Jato, o ex-deputado Eduardo Cunha afirmou ter comprado votos para tentar eleger Hugo Motta à liderança do então PMDB (atual MDB) na Câmara em 2016.

Hugo Motta, atualmente no Republicanos-PB, é o favorito para chefiar a Câmara dos Deputados a partir de fevereiro. No período relatado na delação, Cunha era o presidente da Casa e ambos eram filiados ao PMDB.
Hugo Motta perdeu a disputa pela liderança na ocasião para Leonardo Picciani, do Rio de Janeiro.

A proposta de delação de Cunha foi apresentada em meados de 2017, atribuiu irregularidades a cerca de 120 políticos e disse ter arrecadado R$ 270 milhões em um período de cinco anos para repartir com correligionários e aliados, sendo 70% via caixa dois.

Seus relatos foram considerados superficiais demais pelos investigadores, e não houve acordo.

Um dos documentos com a proposta foi compartilhado entre procuradores que discutiam a possibilidade de delação em um chat do aplicativo Telegram, em julho de 2017, no material obtido pelo site The Intercept Brasil e também analisado pela Folha.

Na proposta de delação, Cunha afirma que pagou para a compra da liderança do PMDB nos anos de 2013 e 2016.

Segundo ele, a disputa entre Picciani e Hugo Motta em 2016 foi a mais cara devido a negociações relacionadas à composição da Comissão de Impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT).

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Eduardo Cunha

Cunha pediu R$ 3 milhões a Joesley

Conforme consta no documento compartilhado pelos procuradores, Cunha disse que teria pedido ao empresário Joesley Batista, da J&F, R$ 3 milhões para a compra da eleição em favor de Hugo Motta e que esse dinheiro teria sido dividido entre seis deputados.

Ele citou nominalmente os ex-congressistas Anibal Gomes, Hermes Parcianello e Vitor Valim e o deputado Alceu Moreira, e disse que ainda confirmaria os outros dois nomes.

Procurados por meio de suas assessorias, Hugo Motta e Joesley Batista não se manifestaram.
Parcianello, Valim e Alceu negaram o relato do ex-presidente da Câmara.

Eu apoiei o Picciani contra o Hugo. Se o Hugo pediu voto para mim, foi só conversa de corredor. Uma conversa dessas [sobre dinheiro] nunca tive não, longe disso”, afirmou Parcianello.

Valim afirmou que o relato “é uma grande mentira”. Alceu Moreira disse que a delação não é verdade, e que ele jamais compactuou com atos desta natureza.

A reportagem não conseguiu localizar Anibal Gomes.

Ainda de acordo com a proposta de Cunha, Joesley saberia para que era o dinheiro e teria enviado uma pessoa para indicar que um interlocutor entregaria os valores em um supermercado do Rio, em caixas de papelão, para um homem de confiança do então presidente da Câmara.

Cunha não reconhece como verdadeira a delação

A entrega do dinheiro, diz o relato do ex-presidente da Câmara, teria acontecido aproximadamente 15 dias antes da eleição, pouco antes do Carnaval de 2016.

Também procurado pela Folha, Eduardo Cunha afirmou que não tem “qualquer anexo de delação nenhuma”.
Não tem qualquer documento assinado por mim e nenhuma reunião minha com ninguém sobre esse tema. Não reconheço isso como verdadeiro e esses fatos não existiram”, disse ele.

No entanto, ele próprio já havia falado publicamente sobre a negociação de delação –em mais de uma ocasião.

Em 2017, o ex-deputado culpou, em entrevista à revista Época, o então procurador-geral Rodrigo Janot pelo fracasso de sua tentativa de fazer um acordo e disse que tinha “histórias quilométricas para contar”.

O que eu tenho para falar ia arrebentar a delação da JBS e ia debilitar a da Odebrecht”, disse Cunha na entrevista, quando ainda estava preso.

Sua defesa disse à Folha em 2019 que a proposta de delação trazia “elementos robustos em relação a inúmeros fatos e pessoas”, o que poderia ter ajudado muito o Ministério Público em várias investigações. O ex-deputado ficou detido em regime fechado de outubro de 2016 a março de 2020. Posteriormente, suas condenações na Lava Jato foram anuladas.

Ainda em 2019, a força-tarefa da operação afirmou que houve consenso sobre a rejeição da proposta de Cunha entre mais de 20 procuradores.

Relatos de colaboradores avaliados como inconsistentes, incompletos ou desprovidos de provas podem ser recusados. Eles podem ainda ser reavaliados em nova negociação de acordo, se o colaborador trouxer provas”, informou o grupo.

A eleição para a liderança do PMDB em 2016 foi dividida entre a recondução de Picciani, que era apoiado pelo Palácio do Planalto, e a escolha de Hugo Motta, apoiado por Cunha. Picciani venceu por 37 votos, enquanto o congressista da Paraíba teve 30. Dos 71 deputados que poderiam votar, dois votaram em branco e dois não compareceram.

A discussão interna do PMDB gerou grande repercussão à época porque era vista como determinante para a articulação do afastamento de Dilma, que acabou se concretizando meses depois.

O próprio Cunha dedica um capítulo do seu livro de memórias “Tchau, Querida” (Matrix), no qual ele relata os bastidores do processo de impeachment, à eleição da liderança do partido. Segundo ele, o governo Dilma jogou pesado contra ele e a derrota teria “gosto de vingança” para o Executivo.

Atualmente em seu quarto mandato, Hugo Motta foi retirado do chamado baixo clero da Câmara (o grupo sem expressão política nacional) quando Cunha assumiu a liderança do PMDB, em 2013.

Há uma outra menção a ele na proposta de delação de Cunha na Lava Jato. O ex-presidente da Câmara listou o correligionário como um dos beneficiários da arrecadação para campanhas que articulou na eleição de 2014. Não há, porém, detalhes de valores ou como teria sido o caminho do dinheiro.

Em 2015, em meio ao turbilhão político que resultaria no impeachment de Dilma, Hugo Motta foi colocado na presidência da CPI da Petrobras.

À época, ele contratava uma das filhas do então presidente da Câmara, a hoje deputada Dani Cunha (União Brasil-RJ), para lhe prestar serviços de comunicação. A CPI foi articulada por Cunha e teve como principal foco as acusações de corrupção contra o PT oriundas da Lava Jato.

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