Por Victória Pacheco
(Folhapress) – A diretora-executiva do ID_BR (Instituto Identidades do Brasil), Luana Genót, publicou vídeo nas redes sociais na quarta-feira (9) expondo episódio de racismo sofrido pela filha de sete anos na área de recreação de uma unidade da Bodytech no Rio de Janeiro (RJ).
Ela conta que fazia uma aula de spinning na noite de terça quando a monitora do “espaço kids” do estabelecimento a procurou, ao lado da criança, para informar que duas meninas brancas, de quatro e cinco anos, recusaram-se a brincar com Alice por causa da cor de sua pele.
“Quando estava quase no fim da aula, super concentrada, o professor falou que tinha alguém me chamando. Vi minha filha com a monitora e pensei que ela devia ter passado mal, vomitado, feito xixi na roupa. Não me passou pela cabeça nada além do fisiológico”, relata Genót.
Rede de academias tem espaço exclusivo para crianças (Foto: Reprodução)
“Mas percebi que a monitora, uma mulher negra, estava trêmula e chorando. E a Alice disse na hora ‘mamãe, sofri um caso de racismo’. Treino minha filha para sempre dar nome ao que aconteceu”, conta. “Como mãe, fiquei orgulhosa, porque passava por situações semelhantes na idade dela e não conseguia falar nada.”
Academia não soube lidar com caso de racismo
Ao procurar a recepção para relatar o caso de racismo, a vencedora do Prêmio Empreendedor Social 2022, na categoria Direitos Humanos, sentiu falta de protocolos para situações como essa.
“Um funcionário me disse ‘o que a senhora quer que eu faça?’, como se eu tivesse que responder para a pessoa do estabelecimento como ela deve agir. É um absurdo.”
Após a publicação de Genót no Instagram, a academia expressou pesar pelo episódio por mensagem, e, no fim da tarde desta quinta-feira (10), enviou email convidando-a para uma conversa.
“Eles disseram que trabalham com vídeos para tratar de questões de raça e assédio. Porém, na prática, as pessoas não estão preparadas, em termos protocolares, para lidar com isso. Por exemplo, o que fazer se a violência partir de uma criança, um professor ou um cliente?”
Procurada pela reportagem, a Bodytech disse lamentar profundamente o episódio de racismo e que conversou com os envolvidos, tendo feito contato com Genót para discutir “o ocorrido e as ações em curso.”
“A empresa mantém um programa institucional chamado BTCo Mais Diversa, voltado à promoção de ações educativas sobre diversidade, letramento racial e inclusão. Esse projeto inclui treinamentos contínuos por meio da plataforma de educação corporativa, além de palestras com especialistas”, afirma.
À frente do ID_BR, organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da igualdade racial, que fundou em 2016, Genót defende um “letramento racial massivo” no Brasil.
“Precisamos efetivamente estabelecer protocolos de educação antirracista. Até expliquei para a academia que a gente [do ID_BR] lançou uma inteligência artificial para ajudar nesse letramento de forma customizada”, afirma.
Segundo ela, medidas assim são essenciais, principalmente na primeira infância. “Precisamos unir educadores e pais para que crianças tenham acesso a isso.”
A ativista também defende punir os pais das crianças que praticarem racismo. “Esse comportamento veio de algum lugar. Precisamos avaliar protocolos de punição de responsáveis para entender as possibilidades de responsabilização.”
Genót diz ainda que não sabe quem são os responsáveis pelas meninas e que eles “não entraram em contato em nenhum momento”.
Espaços exclusivos para crianças são tendência em uma minoria de redes de academias, como Bodytech e Competition, voltadas a um público disposto a pagar mensalidades entre R$ 500 e R$ 1.200, conforme mostrou a Folha de S.Paulo.
Fonte: ICL Notícias