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Por Juliana Dal Piva, Igor Mello e Gabriel Gomes
O Supremo Tribunal Federal (STF) interroga, nesta terça-feira (10), réus do “núcleo 1” da ação que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022. O ex-ministro da Defesa do governo Bolsonaro, general Paulo Sérgio Nogueira, é o penúltimo a depor. Depois, será a vez do ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto.
Paulo Sérgio abriu o seu depoimento se retratando com Moraes por ataques em reunião ministerial: “Eu queria me desculpar publicamente por ter feito essas colocações naquele dia”.
Moraes leu declarações do ex-ministro da Defesa durante uma reunião ministerial de dezembro de 2022. Na ocasião, Nogueira tinha acabado de assumir a pasta. O ministro leu a declaração do interrogado durante a reunião: “O senhor diz: ‘O TSE ele tem um sistema e o controle do processo eleitoral, então, como disse o presidente, eles decidem aquilo que possa interessar ou não. E não tem instância superior, e a gente fica meio que de mãos atadas esperando a boa vontade dele’”.
Paulo Sérgio abriu o seu depoimento se retratando com Moraes por ataques em reunião ministerial. (Foto: Fellipe Sampaio/STF)
Nogueira defendeu que não existe uma minuta sobre supostas fraudes nas urnas, e que nunca tomou conhecimento ou recebeu o documento. “Simplesmente esse documento até hoje eu não sei do que se trata”.
Ele também negou que tenha despachado relatório sobre o sistema eleitoral com o Bolsonaro. “Não houve reunião, não levei o relatório para o presidente assinar. O presidente da República jamais me pressionou”, declarou.
Pela primeira vez, defesa do general Paulo Sérgio entrou em conflito com a de Bolsonaro. Ele desmentiu o ex-presidente sobre a apresentação do relatório de fiscalização eleitoral feito pelas Forças Armadas. “Me perdoe, meu presidente Bolsonaro: quando ele disse e o próprio almirante Garnier diz hoje que nós despachamos com ele [Bolsonaro] esse relatório. Eu não despachei esse relatório com ninguém!”.
Paulo Sergio admitiu a reunião do dia 14 de dezembro de 2022 e também que o brigadeiro Baptista Jr estava muito irritado e deixou a reunião. Ele, porém, não confirmou a apresentação da minuta golpista.
No depoimento, Paulo Sérgio disse que no telefonema em Bolsonaro pediu que ele recebesse Walter Delgatti no Ministério da Defesa, o presidente disse que o visitante se tratava de um técnico em TI, e não de um hacker. O general afirmou que Delgatti não ficou mais de 15 minutos no Ministério da Defesa. E relatou que repreendeu o coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro que levou Delgatti até o local.
Após ser questionado, Paulo Sérgio afirmou que ele e Freire Gomes saíram “preocupadíssimos” da reunião de 7 de dezembro, onde Bolsonaro apresentou a minuta do golpe. Ele disse que alertou o presidente da gravidade de medidas como o estado de sítio ou o de defesa.
Paulo Sérgio subiu o tom ao falar da reunião de 14 de dezembro de 2022, onde a minuta golpista teria sido discutida com os chefes militares pela última vez. O general disse que não era garoto de recados de Bolsonaro e que o encontro ocorreu por iniciativa dele: “Me lembro como se fosse hoje. Eu disse: ‘Presidente, não se fala mais isso, homem’.
“A reunião do dia 14 foi exatamente pra encerrar o assunto e não se tocar mais nessa questão, comandante”, disse o general Paulo Sérgio, cometendo a gafe de chamar Moraes de comandante.
STF está na fase da instrução criminal
Ao todo, a PGR denunciou 26 pessoas por envolvimento na trama golpista, que foram divididas em três grupos distintos conforme suas atividades. No caso do núcleo de Bolsonaro, as acusações são:
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Tentativa de golpe de Estado
- Participação em organização criminosa armada
- Dano qualificado
- Deterioração de patrimônio tombado
Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal – etapa em que a defesa e a acusação trabalham para a produção de provas. Ao fim das oitivas, as partes deverão apresentar suas alegações finais e o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, preparará o relatório final para o julgamento.
Fonte: ICL Notícias