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Durante audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, nesta terça-feira (22), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou que a taxa de câmbio exerce forte influência sobre os preços dos alimentos.
“As commodities são diretamente impactadas pelos preços internacionais, e os custos estão atrelados ao câmbio. A dinâmica resultante das incertezas na política tarifária dos Estados Unidos tem sido determinante para a precificação dos ativos”, disse.
Galípolo apresentou dados que mostram o impacto cambial no custo da produção agropecuária no Brasil. Segundo ele, 41% desses custos estão diretamente ligados ao dólar, com destaque para insumos como rações, fertilizantes, agrotóxicos e combustíveis.
A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), encerrou o mês de março com avanço de 0,56%, após registrar alta de 1,31% no mês anterior. Todos os grupos de produtos e serviços tiveram alta no mês, com destaque para Alimentação e bebidas, que acelerou de 0,70% para 1,17%, com impacto de 0,25 ponto percentual no índice geral.
O governo do presidente Lula (PT) elegeu o combate à alta dos preços dos alimentos como o grande foco de seu mandato este ano.
A fala de Galípolo converge com a do ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, Paulo Teixeira, entrevistado no último dia 11 de abril no ICL Notícias 1ª edição. “Com a guerra tarifária, o dólar saiu de R$ 6,30 para R$ 5,70. Esta semana, teve variação para cima. [Desse modo] Todos os alimentos podem voltar a alterar seus preços. Queremos o dólar a R$ 5,70. O governo fez sua lição de casa. Terminamos o ano passado com déficit zero, mas o dólar alto faz os preços dos alimentos subirem e os insumos também, como fertilizantes, embalagens”, disse o ministro na ocasião.
Na terça-feira (22), o dólar à vista fechou o dia com baixa de 1,37%, aos R$ 5,72, menor cotação desde 4 de abril, quando encerrou em R$ 5,6651. No mês, no entanto, a divisa ainda acumula elevação de 0,36%.
Galípolo: “Há incômodo dentro do BC com inflação fora da meta”
Sobre a política monetária, o presidente do BC disse que há incômodo dentro da autoridade monetária pelo fato de a inflação estar acima da meta estipulada.
Em 2024, o IPCA encerrou o ano em 4,83%, acima da meta de 3% ao ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Para este ano, a mediana dos economistas consultados para o Boletim Focus do Banco Central, divulgado ontem, reduziu de 5,65% para 5,57% a previsão da inflação oficial. Mesmo com a redução, a expectativa continua acima do teto da meta perseguida pelo BC, que é de 4,5%.
“Obviamente, estamos todos no BC incomodados por não estarmos cumprindo a meta”, disse Galípolo na audiência pública no Senado.
“Mas estamos falando de um patamar de inflação muito inferior ao que vivíamos no período [pré-Plano Real] e, ao mesmo tempo, mais próximo das taxas observadas em economias avançadas e emergentes”, destacou.
Segundo ele, um dos pilares da agenda do Banco Central é a normalização da política monetária, que ainda enfrenta entraves.
“Existe um debate fora do Brasil sobre como a economia brasileira segue dinâmica mesmo com uma taxa de juros restritiva. Isso sugere para nós que os mecanismos da política monetária no país talvez não tenham a mesma fluidez que em outras economias”, destacou.
“Pode ser que alguns canais estejam entupidos, o que acaba exigindo doses maiores do remédio para obter o mesmo efeito”, explicou.
Ele atribuiu a normalização da política monetária a reformas estruturais, que independem do BC.
Taxa Selic
Galípolo foi questionado pelos senadores sobre o atual patamar da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 14,25% ao ano.
Ele disse que é papel da instituição atuar em uma ação de “contrapé”, como o “chato da festa”, promovendo o aumento na taxa básica de juros para conter o crescimento descontrolado dos preços e não se perder a estabilidade da moeda.
“Quando a economia está aquecida, gerando pressões inflacionárias, você deveria freá-la, para que não se perdesse o controle da estabilidade monetária”, disse.
Fonte: ICL Notícias