Manaus, municípios da região metropolitana e a região sul do Amazonas amanheceram mais uma vez sob forte fumaça, resultado direto do aumento de focos de incêndio nessas regiões. Autazes, distante pouco mais de 100 quilômetros de Manaus, lidera o aumento de 15% nos focos nos últimos cinco dias no sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com 45% dos alertas entre ontem e esta quarta-feira (20), o Amazonas atualmente ocupa o segundo lugar no ranking de estados brasileiros com mais focos de calor, de acordo com o mesmo monitor climático, embora tenha reduzido essa taxa em comparação com o ano anterior. A área central de Manaus chegou a registrar 146 pontos no índice de qualidade do ar nesta manhã. A classificação aponta que a condição do ar pode ser altamente nociva para grupos sensíveis, como pessoas com asma e em tratamento contra as consequências da Covid-19, de acordo com o Selva App, iniciativa da Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Estado do Amazonas (EST/UEA), que utiliza o Purple Air, o mesmo banco de análise de dados climáticos utilizado pelo The New York Times e o Bloomberg, para classificar a presença de partículas poluidoras.
Queimadas em regiões de mata são constantes durante o verão amazônico.
Desde agosto, é possível notar uma forte presença de fumaça na capital. A queda na qualidade do ar é um dos principais efeitos sobre a saúde e, em meio ao período de estiagem e tempo seco, o mês de setembro projeta ainda mais preocupação: uma onda de calor extremo deve atingir estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pará e Amazonas nos próximos dias, conforme o mais recente relatório da MetSul Meteorologia.
Registro da forte fumaça que atingiu Manaus em 20/09/2023.
Apesar de esforços, como a decretação do estado de emergência climática pelo executivo estadual devido à estiagem e ao alto número de queimadas, municípios como Canutama, Lábrea e Anamã estão entre os 30 com mais alertas, e o Pará segue liderando o registro de queimadas, sendo Altamira, município que faz fronteira com o Amazonas, responsável pelo crescimento de 27% nos últimos 15 dias, com um aumento significativo desde a última quinta-feira.
Além disso, as altas temperaturas causadas pelo agravamento do fenômeno El Niño têm dificultado a dispersão da fumaça, levando ao acúmulo de material sobre as cidades, como apontou a Defesa Civil.
Focos de queimadas na estrada para o Careiro Castanho.
Redução de queimadas no Amazonas
Apesar do alto número de focos de queimadas em Manaus, o Amazonas registrou uma redução de 33,27% em relação ao mesmo período do ano anterior, com 6.813 focos de calor de 1º de agosto a 4 de setembro. No acumulado do ano, a redução é de 23,78%, totalizando 9.150 focos neste ano em comparação com os 12.006 registrados no mesmo período do ano anterior. Assim, o estado ocupa a 3ª posição no ranking de redução de focos de calor entre os estados da Amazônia Legal, de acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente.
No entanto, o número de focos de calor na Região Metropolitana aumentou significativamente nas últimas três semanas, resultando em uma alta densidade de material particulado no ar, prejudicando a visibilidade e a saúde dos habitantes, conforme apontou o Instituto Nacional de Meteorologia. Os dados completos deverão ser divulgados na próxima sexta-feira. O último balanço revelou mais de 2 mil focos de calor até 15 de setembro.
Corpo de Bombeiros faz a contenção das chamas em incêndio de lixeira viciada no bairro Mauazinho, Zona Leste de Manaus, no início de setembro.
Em uma recente campanha de conscientização para os moradores de Manaus sobre os riscos das queimadas, o secretário municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Antonio Stroski, apontou que as mudanças climáticas são um tema de reflexão e ação. Para ele, é essencial combater a presença de fumaça proveniente das queimadas. “Um dos grandes desafios para todos nós são as mudanças climáticas. Precisamos que a população reflita sobre isso e abandone práticas antigas, como a queima de resíduos“, disse durante a blitz “Manaus Sem Fumaça.”
Ainda conforme a Defesa Civil, a previsão é que, devido à influência do fenômeno climático El Niño, que inibe a formação de nuvens de chuva, a estiagem deste ano seja prolongada e mais intensa em comparação com anos anteriores.