GOVERNO FEDERALspot_imgspot_img
24.3 C
Manaus
GOVERNO FEDERALspot_imgspot_img
InícioBrasilInstituto quer símbolo de religiões africanas no STF após aprovação de crucifixos

Instituto quer símbolo de religiões africanas no STF após aprovação de crucifixos

Por Amanda Prado

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, recebeu nessa semana um pedido para que um objeto sagrado iorubá — símbolo da Justiça — seja fixado no plenário da Corte. A demanda partiu do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro) como um desdobramento de uma decisão do STF de novembro do ano passado.

Na ocasião, por unanimidade, o Tribunal entendeu que a presença de imagens católicas no STF não fere a laicidade do Estado e a liberdade religiosa no país. Diante da manifestação da Corte ao reconhecer símbolos cristãos como um tipo de manifestação histórica e cultural, o Idafro pede representatividade das religiões afro-brasileiras no Judiciário.

A proposta é que o tribunal tenha um Oxê, o machado de Xangô, ferramenta da divindade africana associada à justiça. Na cultura iorubá, com forte predominância no Brasil, “ọṣè” significa “machado de dois gumes”. Diz-se, nas tradições de matriz africana, que o machado de Xangô “corta dos dois lados”, representando a dualidade dos fatos e a justiça imparcial da divindade — cultuada em religiões como a Umbanda e o Candomblé.

Instituto quer símbolo africano no STF

Machado de Xangô no STF

O pedido do Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (Idafro) considera que a inclusão do Oxê no STF seria uma forma de promover a igualdade de tratamento entre diferentes tradições culturais e religiosas. No atual momento do país, esse movimento se torna ainda mais relevante diante de episódios violentos de destruição de templos e ameaças a líderes religiosos que seguem tradições de matriz africana.

Doze lideranças religiosas e seis advogados (liderados por Hédio Silva Júnior) assinam o pedido. O texto elaborado pelo grupo diz: “Historicamente excluídas de direitos básicos, as religiões afro-brasileiras contam com o Poder Judiciário como última ou única instância na qual suas demandas sociais são respeitadas (…) (Trata-se de) postulação igualitária materializada em igualdade de tratamento ao símbolo africano da Justiça vis a vis com o tratamento dispensado ao crucifixo.

TJRJ recebeu machado de Xangô em dezembro

Em entrevista ao ICL Notícias, a Ìyálaṣé Arethuza Doria de Ọya, membro da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra da OAB-RJ, informou que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro foi a primeira instituição do Judiciário no Brasil a aceitar e acolher o símbolo, no último dia de trabalho do tribunal em dezembro de 2024. “Para nós, o Oxê de Xangô não é apenas um símbolo religioso. É um símbolo cultural dos diversos povos pretos que vieram escravizados para o Brasil. Por isso esse diálogo é tão importante. Trata-se de um debate sobre reparação histórica. O Brasil nos deve isso”, disse.

De acordo com ela, mais de 60% das influências e heranças culturais brasileiras é negra. “Nossa luta agora é para o Oxê chegar ao STF. O símbolo que geralmente nos é apresentado como símbolo da Justiça é um símbolo grego, da deusa Ártemis. Isso demonstra a clareza de um racismo estrutural estabelecido. Predomina na mais alta Corte do Poder Judiciário brasileiro um símbolo grego e não um símbolo dos pretos, a real identidade do nosso país”, afirmou Arethuza.

Presidente do TJRJ, Des. Ricardo Rodrigues Cardozo; Humberto Adami Santos Junior, presidente da Comissão da Igualdade Racial do Instituto dos Advogados do Brasil; Des. Wagner Cinelli, presidente do Comitê de Promoção da Igualdade de Gênero e de Prevenção e Enfrentamento dos Assédios Moral e Sexual e da Discriminação do TJRJ; Mãe Márcia d’Óxum, filha de Mãe Menininha do Gantois; e Arethuza Dória de Omidayè, membro da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil da OAB-RJ.

Xangô: divindade que representa a Justiça

Ligado aos trovões e aos relâmpagos, Xangô é conhecido como o guardião da justiça e protetor dos desfavorecidos. Divindade de muita sabedoria, reconhecida por características que reverberam nas batalhas históricas do povo brasileiro. Na cultura iorubá, o machado duplo, Oṣẹ, representa equilíbrio e neutralidade.

De acordo com a Fundação Palmares, o Oṣẹ Mímọ́ Ṣàngó no Judiciário simboliza a abertura da justiça brasileira às narrativas e princípios tradicionalmente ignorados, contribuindo para combater o racismo religioso e educando sobre a importância do respeito à diversidade. Ou seja, sua presença num ambiente judicial fortalece o acolhimento igualitário de todas as crenças e destaca a relevância de reconhecer expressões antes marginalizadas como parte da herança de um Brasil plural.

Oṣẹ Mímọ́ Ṣàngó, o Machado Sagrado de Xangô no TJRJ

- Patrocinado -spot_imgspot_img

Últimos artigos

R6 News Mais

- GOVERNO FEDERAL -spot_imgspot_img

R6 NEWS

Cid tentou blindar Braga Netto nos primeiros depoimentos da delação

A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, mostra a tentativa de blindagem do general Braga Netto nos primeiros...

Bolsonaro deu ordem para inserir dados falsos de vacina em sistema

O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou, em delação premiada, que recebeu ordens do então presidente para inserir dados falsos de vacinação contra a...

Milei culpa investidores por fraude das criptomoedas que ele promoveu: ‘Roleta russa’

O presidente Javier Milei falou pela primeira vez em uma entrevista, após o escândalo de criptomoedas que o presidente causou após promover o token $LIBRA, que...

Inscrições para o Programa Bolsa Atleta entram na reta final

Falta uma semana para terminar o período de inscrições do Bolsa Atleta 2025. Interessados em participar do programa, destinado a atletas de alto desempenho com...
spot_imgspot_img