O presidente Javier Milei falou pela primeira vez em uma entrevista, após o escândalo de criptomoedas que o presidente causou após promover o token $LIBRA, que teve uma ascensão meteórica e posterior queda, deixando milhões em perdas para os investidores. Ele se referiu aos investidores que compraram a criptomoeda disseminada pelo presidente: “É como se alguém jogasse roleta russa e a bala disparasse”, disse ele.
Em conversa veiculada no canal TN, o presidente foi bem duro com quem adquiriu o token $LIBRA e perdeu muito dinheiro na queda frenética da cripto: “Se você vai ao cassino, que respostas você quer se você foi ao cassino. Quem entrou nesse mercado é um tipo hipersofisticado. ” Ele acrescentou: “Ou você acha que qualquer um pode negociar aqui?”.
Uma versão não editada da entrevista vazou e circula nas redes sociais, dando a entender que as perguntas foram completamente dirigidas e escolhidas pelos assessores de imprensa de Milei. O canal TN é do Gupo Clarín, que apoia o presidente.
Depois de tentar amenizar o caso e afirmar que não foram 44.000 contas que perderam com criptomoedas, mas sim “cerca de 5.000 pessoas, porque a maioria delas eram bots”, ele comparou o mundo das criptomoedas ao acaso e disse sobre os investidores: “Eles são traders de volatilidade, eles sabiam o risco que estavam correndo. ”
Em um dos 100 processos sobre caso protocolados no Judiciário argentino, porém, o presidente é o principal alvo de reclamação.
“Denunciamos que Milei fez parte de uma associação ilícita que organizou uma fraude com a criptomoeda $LIBRA, que afetou simultaneamente mais de 40 mil pessoas com perdas de mais de US$ 4 bilhões”, afirmou em um comunicado o Observatório de Direito da Cidade, cujos advogados lideram uma das ações.
A denúncia inclui, entre outros, Julián Peh, CEO e cofundador da Kip Network e KIP Protocol — empresas que participaram da criação do $LIBRA —, e o presidente da Câmara dos Deputados, Martín Menem, que repostou a mensagem de Milei na sexta-feira no X.
Segundo o documento judicial, o fato de que “o presidente Milei e outros líderes de seu partido La Libertad Avanza promoveram o Token, conferiu legitimidade ao projeto para que milhares de investidores confiassem”.
Javier Milei está no centro do “Escândalo das cripto”
Solicitada busca e apreensão na residência de Milei
A ação solicitou à Justiça a busca e apreensão na residência presidencial de Olivos e a apreensão de computadores, tablets e telefones celulares.
Na entrevista, Milei alegou que a maioria dos compradores de $LIBRA veio principalmente dos Estados Unidos e da China, e no máximo “cinco” contas da Argentina adquiriram a criptomoeda que o presidente promoveu e que levou ao maior escândalo de sua administração.
Em entrevista à A24, o ministro da Economia, Luiz Caputo, foi uma das primeiras vozes oficiais a se referir ao criptogate e absolveu o chefe de Estado de toda responsabilidade: “Não foi um ato de governo, é algo que o presidente fez de sua conta pessoal. Não há fundos públicos.” Ele acrescentou: “Não houve fraude, nem crime, nem corrupção”.
Na mesma linha, o responsável sublinhou que “não houve crime, houve erro do Presidente e ele agiu em conformidade. O assunto está encerrado.” Ele continuou sua defesa: “Ele espalhou um projeto que ele achava que era pró-Argentina, como ele frequentemente faz. Benefício pessoal está além de discussão. A honestidade do Presidente não está em dúvida.
Entrevista direcionada pelo assessor do presidente
Vazou nas redes um vídeo não editado do programa no qual o principal assessor de Milei, Santiago Caputo, interrompe o diálogo para evitar que o presidente continue falando diante do risco de se comprometer judicialmente.
Depois de ironizar as acusações de que o governo manipula entrevistas e combina previamente as perguntas, o jornalista Jonatan Viale questiona Milei:
“Volto ao caso LIBRA para encerrar. A juíza que vai investigar é María Servini. O Estado vai fazer uma apresentação espontânea? Você vai se apresentar? O advogado do Estado vai se apresentar?”
Diante da resposta de Milei, o jornalista insiste:
“É um tema no qual você participou como cidadão, além de como presidente, por isso estou perguntando”, esclarece Viale, questionando mais uma vez sobre a participação de Milei no caso.
“É bom que você destaque que eu tuitei isso como cidadão, porque fiz isso a partir da minha conta pessoal”, responde Milei.
Viale rebate.
“Tudo bem, mas você é o presidente”.
A conversa continua com outra explicação de Milei.
“Minha conta é pessoal. Veja o que está escrito nela, pede Milei a Viale. Nesse momento, o jornalista deixa claro que sabe que a conta o descreve como “economista” e não como “presidente”, mas insiste:
“Você é o presidente”.
Diante da completa falta de argumento de Milei, o poderoso Santiago Caputo intervém e manda o jornalista refazer o questionamento. “Comece com a pergunta de novo”, pode-se ouvir o assessor pedindo nos bastidores.
“Entendo. Percebo. Isso pode trazer problemas judiciais. Ok, onde estávamos?”, diz Viale.
Milei então responde:
“Não sei. Pergunte de novo sobre o caso LIBRA”.
Vídeo com trechos não editados vaza nas redes
Depois da entrevista com Jonatan Viale, o presidente argentino conversou com o entrevistador do grupo “Clarín” sobre os acertos firmados entre a assessoria de imprensa da Presidência e a empresa jornalística. Uma versão bruta dessa conversa que caiu na rede X, mostra o jogo combinado entre Milei e o jornalista.