GOVERNO FEDERALspot_imgspot_img
32.3 C
Manaus
GOVERNO FEDERALspot_imgspot_img
InícioNotícias do Brasilpecuaristas desmentem a ‘revolução verde’ da JBS

pecuaristas desmentem a ‘revolução verde’ da JBS


ouça este conteúdo

00:00 / 00:00

1x

Por Ana Aranha, de Brasília, Daniel Camargos, de Rondônia, Naira Hofmeister e Jonathan Watts, do Pará, e Lucy Jordan, de LondresRepórter Brasil

 

Para pecuaristas que fornecem gado para a JBS, a “revolução verde” anunciada pela empresa é mera retórica. Ou, nas palavras deles, “para inglês ver”.

Produtores rurais relatam que a promessa da companhia de eliminar o desmatamento da sua cadeia produtiva até o fim deste ano está distante do que realmente acontece no campo.

Em uma parceria entre a Repórter Brasil, o jornal britânico The Guardian e a Unearthed, braço de jornalismo investigativo do Greenpeace, a equipe ouviu mais de 35 fazendeiros e profissionais do setor em três viagens pelas principais regiões onde a JBS compra bois na Amazônia. Na lista de entrevistados estão pecuaristas e líderes de associações de produtores de gado que representam milhares de fazendas dos estados de Pará e Rondônia.

Com naturalidade, muitos deles descrevem esquemas para burlar os controles. Alguns afirmam que a empresa faz vista grossa para esses arranjos. E a grande maioria não acredita que a JBS vá cumprir seu principal compromisso ambiental: limpar o desmatamento de sua cadeia de fornecedores. Para isso, seria necessário cortar todos os fornecedores diretos ou indiretos que desmataram. O prazo fixado pela própria empresa é dezembro de 2025.

A JBS alardeia essa pretensão enquanto traça um plano ambicioso: entrar na listagem da Bolsa de Nova York. A medida deve ampliar o número de investidores e engordar ainda mais o seu faturamento, que bateu R$ 416 bilhões em 2024. Mas gera uma onda de críticas, dentro e fora dos Estados Unidos, pelo receio de acelerar o desmatamento na Amazônia.

Por isso, a empresa não tem economizado em promessas. “A revolução verde será extraordinária”, exaltou o CEO Global Gilberto Tomazoni em fórum da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina. Falta, porém, alinhar o discurso com os seus fornecedores.

Os pecuaristas ouvidos pela reportagem confirmam que a empresa já começou a cortar a maior parte das fazendas de quem não se adequou. Mas isso não significa que elas deixaram de fornecer para a JBS. Os produtores detalham um sistema concebido para burlar a origem do gado criado em áreas desmatadas.

Funciona assim: quem tem problema ambiental busca alguém que não tem para servir de intermediário na venda à JBS.

Peões tocam gado nos arredores da Terra Indígena Apyterewa, no Pará, de onde milhares de bois criados irregularmente foram retirados pelo governo federal (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/16.12.2024)

Peões tocam gado nos arredores da Terra Indígena Apyterewa, no Pará, de onde milhares de bois criados irregularmente foram retirados pelo governo federal (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/16.12.2024)

No “greenwashing do gado”, o boi sai de áreas de proprietários que não cumprem as regras ambientais, mas é vendido com documentos de fazendas com ficha ambiental limpa. Em alguns casos, os animais até passam um tempo na fazenda que emite os documentos. Em outros, essa fazenda só entra com os papéis, e o boi vai direto da área desmatada para o abate na JBS.

As práticas de “lavagem verde” do gado foram relatadas como algo comum, e até banal, pelos pecuaristas e representantes do setor ouvidos pela reportagem. Muitos admitiram usar, e pelo menos dois forneceram informações que puderam ser comprovadas pela reportagem, a partir dos dados de trânsito dos animais entre as fazendas e a JBS.

Ao longo dos últimos anos, a Repórter Brasil publicou casos de fornecedores indiretos que burlam os controles da JBS. A resposta da empresa é sempre a mesma: a de que cortará as compras da fazenda denunciada. Dessa vez, contudo, os nomes dos pecuaristas não serão revelados, pois as declarações deles apontam uma falha estrutural.

Em um caso ocorrido no Pará, um importante fornecedor da JBS conta que colocou suas fazendas sem problemas de desmatamento no nome de um laranja e até de parente. Desse modo, ele pode escoar seus animais criados em áreas com problemas ambientais.

Isso tudo é combinado com a JBS, ele relata à reportagem, pois o caminhão que leva os animais para o abate carrega o gado “sujo” em propriedades distantes dos locais indicados nos papéis como origem dos bois.

“O endereço [no documento] é em uma cidade, mas as cargas são carregadas em outro município. Eles do frigorífico sabem tudo”, afirma.

Em outro esquema, o fazendeiro firmou um contrato com um pecuarista parceiro sem restrições ambientais. “O gado tá saindo da terra do outro, mas só entre aspas, né”, explica. Segundo ele, os representantes do frigorífico da JBS também têm ciência do acordo: “já é combinado com eles”.

“Todo mundo faz isso”, afirma, da ponta oeste da Amazônia brasileira, o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Pimenta Bueno, em Rondônia, José de Carvalho Sobrinho. Ele se refere aos diversos esquemas criados no estado para “cumprir” as exigências ambientais.

A prática é tão disseminada e aberta que os pecuaristas se ressentem por terem que fazer o “trabalho sujo”, enquanto a JBS se anuncia para o mundo como sustentável.

“Sou criterioso demais com horário, com documento, com tudo. Agora eu tô passando por essa humilhação”, afirma um outro fazendeiro, do sudeste do Pará. Ele colocou fazendas no nome de laranjas para seguir vendendo à empresa.

“O controle de fornecedores indiretos permanece um gargalo do setor. Não é uma coisa que surgiu agora”, afirma Paulo Barreto, pesquisador associado do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). “As empresas poderiam ter avançado num sistema privado, mas não se avançou”.

Empresa admite o problema

Procurada pela reportagem, a JBS admite que bloquear fazendas com desmatamento não é suficiente para impedir que o gado dessas áreas entre em seus frigoríficos. Embora não comente a denúncia de que seus frigoríficos estariam cientes dos casos, a empresa assume que muitos produtores encontram formas de burlar os sistemas de controle.

Para tentar resolver esse problema estrutural, uma das estratégias anunciadas foi criar uma rede de 20 “Escritórios Verdes” na Amazônia e no Cerrado, oferecendo assistência técnica gratuita a produtores para ajudá-los a se regularizar. “Mais de 15 mil propriedades já receberam apoio técnico da JBS desde 2021”, diz a empresa.

Das 34 plantas de abate de bovinos da JBS no Brasil, 21 ficam na Amazônia Legal, como a da imagem acima, em Alta Floresta (MT) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/29.08.2022)

Das 34 plantas de abate de bovinos da JBS no Brasil, 21 ficam na Amazônia Legal, como a da imagem acima, em Alta Floresta (MT) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/29.08.2022)

A companhia contestou ainda a metodologia da reportagem: “Tirar ‘inferências’ e conclusões a partir de uma amostra limitada de 30 fazendeiros enquanto se desconsidera que a JBS tem mais de 40 mil fornecedores registrados é totalmente irresponsável”, afirmou em nota.

A empresa alega ainda que já bloqueou “dezenas de milhares” de fazendas que violaram sua política ambiental e que mais de 80% de suas compras anuais de gado estão integradas a uma plataforma digital. Leia a íntegra da resposta.

Entre a teoria e a prática

A JBS está enraizada na Amazônia, onde opera 22 dos seus 34 frigoríficos de bovinos no país, segundo levantamento da Repórter Brasil com base em dados da JBS e da Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos). Considerando que a pecuária é a maior fonte de desmatamento do bioma, a empresa é a que mais oferece risco de devastação, segundo o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia).

Pelo mesmo motivo, a companhia tem o maior potencial de impacto para frear a destruição. Por isso, suas promessas são valiosas para a proteção da floresta e mudanças climáticas. O desafio é medir a distância entre o discurso e a prática.

Desde 2014, a JBS afirma que consegue garantir “conformidade” de 100% dos seus fornecedores diretos. Isso significaria que todas as fazendas que vendem para os seus frigoríficos sem intermediários estariam com a ficha ambiental limpa. Mas, mesmo neste patamar teoricamente já alcançado pela empresa, são muitos os furos.

Um dos últimos foi em outubro, quando o Ibama flagrou a JBS comprando diretamente de uma fazenda onde houve desmatamento ilegal com uso de fogo na Amazônia. O gado foi comprado de modo direto – sem intermediários – da fazenda Bom Futuro entre 2022 e 2023, período em que a fazenda tinha área embargada devido ao crime ambiental.

O frigorífico da JBS que recebeu gado desta fazenda, em Tucumã, foi embargado pelo órgão ambiental na Operação Carne Fria 2. Além deste frigorífico, outras 23 unidades pertencentes a outros grupos foram autuadas no Pará e no Amazonas devido a crimes ambientais.

Procurada sobre o caso, a JBS afirma que não comprou de áreas embargadas. “Em resposta ao Ibama, a empresa demonstrou que as propriedades estão de acordo com a legislação e com a política de compras da empresa”.

O caso flagrado pelo Ibama não é isolado. Ainda em 2024, a Repórter Brasil também denunciou um caso no Mato Grosso, onde a JBS comprou de modo direto de fazenda embargada devido a crime ambiental pelo Ibama. Neste caso, ao ser procurada pela reportagem, a empresa disse que suspendeu o fornecedor preventivamente.

Imagem aérea de setembro de 2022 mostra confinamento de gado na região de Matupá, norte de Mato Grosso. Investigação mostra que fazendas regularizadas são usadas para escoar bois “ilegais” para JBS (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

Imagem aérea de setembro de 2022 mostra confinamento de gado na região de Matupá, norte de Mato Grosso. Investigação mostra que fazendas regularizadas são usadas para escoar bois “ilegais” para JBS (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

De leste a oeste

“É a regra do jogo”, confirma Adélio Barofaldi, um dos maiores pecuaristas de Rondônia, ao comentar os esquemas de “lavagem verde” do gado, que beneficiam não só a JBS, como outros frigoríficos.

Gaúcho de origem, Barofaldi é CEO do grupo empresarial Rovema, que tem a maior cadeia de concessionárias de caminhões e automóveis de Rondônia. É ainda presidente da Associação PanAmazônia, formada por empresários locais e que publica artigos defendendo Elon Musk.

O empresário é crítico do modo como a JBS anunciou sua nova política. Para ele, a empresa está tentando criar uma “vitrine bonita” para o mercado internacional, sem de fato se comprometer em resolver os problemas estruturais do setor, como apoiar pequenos produtores na busca da regularização fundiária.

Ele compara a estratégia a um shopping center, onde o público vê apenas as vitrines de lojas impecáveis, mas não os bastidores, com seus depósitos e áreas de carga e descarga.

Caminhões carregados de bois vivos atravessam o rio Xingu, próximo a São Félix do Xingu (PA) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/12.12.2024)

Caminhões carregados de bois vivos atravessam o rio Xingu, próximo a São Félix do Xingu (PA) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/12.12.2024)

‘Só eles vão ganhar dinheiro’

No Pará, a JBS está financiando um programa do governo estadual que promete rastrear todo o gado desde o nascimento. A meta do programa paraense coincide com a do frigorífico: a partir do ano que vem, todos os animais que circularem pelo estado precisam ter um equipamento de rastreabilidade individual, o que vai facilitar o esforço ambiental da JBS. Mas a iniciativa também é vista com receio pelos produtores rurais.

“Sabe pra que serve o rastreamento? Pra eles ganharem dinheiro”, afirma um pecuarista que fornece gado considerado de alta qualidade para a JBS. “Eu vou ser rastreado, mas pra mim não vão pagar nada [a mais]. E você, se não for, eles vão pagar mais barato. Só eles vão ganhar dinheiro!”.

Não é segredo que os irmãos Joesley e Wesley Batista, principais acionistas do grupo que controla a JBS, sabem ganhar dinheiro. Segundo estimativa da Forbes, o patrimônio acumulado dos irmãos em 2025 é de R$ 44 bilhões (7,6 bilhões de dólares).

Também não é a primeira vez que surgem denúncias sobre ilegalidades na empresa. Em 2017, a JBS foi alvo de duas grandes operações que revelaram pagamento de propina a fiscais sanitários e compras de gado de áreas desmatadas ilegalmente. Ambas as violações voltaram a ser flagradas pelo Ibama e pela Polícia Federal em 2024.

Ainda em 2017, enquanto a empresa respondia a outras quatro investigações por suspeita de corrupção, o grupo assinou um acordo de delação premiada onde admitiu uma série de subornos a políticos e funcionários públicos, no âmbito da operação Lava Jato. A empresa recebeu a maior multa por corrupção na história do Brasil: R$ 10,4 bilhões.

Os irmãos admitiram terem corrompido diversos membros do governo e de partidos da oposição. Hoje, eles contestam a validade da delação e já conseguiram uma decisão do Supremo Tribunal Federal suspendendo a multa.

Com a volta do presidente Lula (PT) à Presidência, os irmãos Batista também retornaram ao epicentro do poder. Os dois foram recebidos pelo petista no Palácio do Planalto, integraram a comitiva presidencial em viagem à China e receberam Lula em uma de suas unidades, em Mato Grosso do Sul.

Presidente Lula visita planta da JBS em Campo Grande (MS), acompanhado do ministro da Agricultura Carlos Fávaro (à dir.) e da ministra do Planejamento Simone Tebet (à esq.) (Foto: Ricardo Stuckert/PR/12.04.2024)

Presidente Lula visita planta da JBS em Campo Grande (MS), acompanhado do ministro da Agricultura Carlos Fávaro (à dir.) e da ministra do Planejamento Simone Tebet (à esq.) (Foto: Ricardo Stuckert/PR/12.04.2024)

Um outro colapso

Do modo como o mercado da carne está organizado hoje, os pecuaristas de Rondônia e Pará afirmam ser inviável para a JBS manter o tamanho de sua operação sem comprar de fazendas que desmataram depois de 2008.

“Isso vai afetar mais de 60% da produção estadual”, afirma Alex Guaitolini, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Rondônia. “Se isso de fato acontecer, o nosso estado, e a Amazônia como um todo, vai entrar em colapso”, acredita.

O termo usado por Guaitolini é o mesmo usado por ambientalistas ao fazer alertas sobre o ponto de não retorno da Amazônia. Segundo os cientistas, a destruição da floresta pode abalar os seus sistemas de regeneração. Neste caso, as áreas desmatadas se transformariam em uma espécie de savana, sem possibilidade de reflorestamento.

Um dos maiores obstáculos quando se busca soluções para a maior floresta tropical do mundo é o seu histórico recente de ocupação. A vida de Guaitolini ajuda a entender o tamanho da encrenca.

Paranaense, ele chegou a Rondônia na década de 1980 com quatro anos. Como muitas outras, sua família foi atraída pela promessa de terras e incentivos governamentais, que visavam integrar a Amazônia ao restante do país. “Integrar para não entregar” era o mote da campanha da ditadura militar.

Tempestade em fazenda de gado na margem da BR-163, próximo ao distrito de Castelo dos Sonhos, em Altamira (PA) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/30.09.2019)

Tempestade em fazenda de gado na margem da BR-163, próximo ao distrito de Castelo dos Sonhos, em Altamira (PA) (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/30.09.2019)

O pecuarista cresceu vendo Rondônia ser desmatada com incentivos do governo. Segundo ele, a maioria dos pequenos produtores possui algum tipo de infração ambiental em suas propriedades. Ele mesmo já recebeu três multas do Ibama por desmatamento de área nativa, resultando em duas propriedades com 163 hectares em áreas embargadas.

Como muitos outros, ele teme que a mudança da política da JBS, sem apoio para a regularização fundiária e ambiental, inviabilize a produção de carne em Rondônia.

O estado tem o sexto maior rebanho bovino do Brasil, com um total de 18,2 milhões de cabeças. Com R$ 6,8 bilhões exportados em 2024 (1,16 bilhão de dólares), o setor da carne respondeu por 40% das exportações totais, segundo dados do Idaron, a agência sanitária local.

Nas bordas da Terra Indígena Apyterewa é muito comum a presença de animais pastando ou em trânsito (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/16.12.2024)

Nas bordas da Terra Indígena Apyterewa é muito comum a presença de animais pastando ou em trânsito (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/16.12.2024)

Pressão sobre os produtores

Quando a reportagem esteve em Rondônia, em outubro, o céu estava cinza. A combinação da seca extrema e das queimadas sufocou a população e levou Porto Velho ao posto de capital mais devastada pelo fogo do país.

Um dos quatro frigoríficos locais da JBS fica em Pimenta Bueno, no sul do estado. São abatidos de 700 a 1.500 bois por dia, segundo estimativas do Imazon e do presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Pimenta Bueno, José de Carvalho Sobrinho.

O representante avalia que a alta demanda da JBS coloca pressão sobre os pecuaristas. Ao exigir garantias de origem do gado, a empresa estaria impondo um fardo pesado a um setor que, na visão dele, carece de apoio e orientação.

“Ninguém orientou o produtor a preservar. Agora querem punir duas vezes: multa e ainda tem que recuperar”, desabafa o mineiro de 78 anos, que chegou a Rondônia quando tinha 32, depois de viver no Paraná e em Mato Grosso.

Sobrinho argumenta que a promessa da JBS – de rastrear o gado de fornecedores indiretos até o fim deste ano – é inviável. Para ele, a falta de regularização fundiária em grande parte do estado é um dos obstáculos para o controle. “Cerca de 40% das áreas de Rondônia ainda não estão legalizadas”, aponta.

Outro pecuarista importante de Rondônia e que vocaliza os pensamentos do setor é o coordenador da Câmara Setorial da Carne, Edson Afonso Rodrigues. Ele afirma que os planos da JBS são inviáveis e insustentáveis, principalmente para os pequenos produtores.

Rodrigues argumenta que a rastreabilidade proposta pela JBS, baseada no CPF do produtor e nas Guias de Transporte Animal, é limitada e ineficaz.

Na visão dele, a gigante da carne deveria acompanhar o animal desde o nascimento até o abate. Ele entende, porém, que a implementação desse sistema exigiria investimentos que muitos produtores, especialmente os pequenos, não têm condições de arcar.

“O produtor já teve prejuízos enormes com essas exigências no passado. Eu mesmo perdi vários mil reais com rastreabilidade que foi imposta lá atrás. Hoje, o entendimento da CNA [Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil] é de que a rastreabilidade não deve ser obrigatória e que deve haver um prazo longo para a adequação, até que essas questões jurídicas sejam resolvidas”, lembra o pecuarista.

Vista aérea mostra floresta protegida na Terra Indígena Parakanã (à esq.) ao lado de fazendas de pecuária (à dir.), separadas pela rodovia Transamazônica, na região de Marabá, no Pará (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/23.09.2023)

Vista aérea mostra floresta protegida na Terra Indígena Parakanã (à esq.) ao lado de fazendas de pecuária (à dir.), separadas pela rodovia Transamazônica, na região de Marabá, no Pará (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil/23.09.2023)

Rodrigues reconhece a existência de produtores que desmatam ilegalmente e causam incêndios florestais, mas afirma que não se pode generalizar e criminalizar todos os pecuaristas da região. Ele defende a necessidade de diferenciar os infratores daqueles que produzem de forma legal e sustentável.

Casos recorrentes envolvendo a JBS, porém, sugerem que a empresa não está fazendo essa distinção. A Repórter Brasil revelou que, entre 2018 e 2022, a JBS comprou quase 9 mil bois de fazendas ligadas a uma quadrilha de desmatadores em Rondônia. Quando procurada, a empresa admitiu a conivência de seus funcionários no esquema.

Em um caso mais recente, a reportagem denunciou em 2024 um esquema de grilagem de terras dentro do Parque Estadual de Guajará-Mirim, em Rondônia, que envolvia uma quadrilha acusada de lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e outros crimes. A investigação revelou que o grupo invadiu e devastou a área protegida para criar gado, e que parte desses animais foi vendida para grandes frigoríficos, como JBS, Marfrig e Frigon.

Esses episódios e as declarações dos pecuaristas revelam o tamanho do desafio para a “revolução verde” da JBS. A política ambiental da empresa, contudo, evolui lentamente, avalia o procurador Ricardo Negrini, do Ministério Público Federal (MPF) no Pará. “A JBS deveria ter os melhores sistemas, os melhores controles, as melhores práticas, mas ela vem deixando a desejar.”



Fonte: ICL Notícias

- Patrocinado -spot_imgspot_img

Últimos artigos

R6 News Mais

- GOVERNO FEDERAL -spot_imgspot_img

R6 NEWS

Em “Dia do Superman“, filme de James Gunn ganha vídeo com novos detalhes

Em celebração ao Superman Day (“Dia do Superman”, em tradução literal), nesta sexta-feira (18), o estúdio Warner Bros. Pictures divulgou um...

Golpes de criptomoedas alcança níveis alarmantes no Paraguai, alerta autoridade

A Polícia Nacional do Paraguai estima que os golpes com criptomoedas no país ultrapassaram a marca de 4 bilhões de dólares entre 2023...

Polícia Militar impede “rolezinho“ na região da rodoviária do Rio

A Secretaria de Estado de Polícia Militar, em ação conjunta com a Secretaria Municipal de Ordem Pública e a Guarda Municipal,...
spot_imgspot_img
×

Olá, venha fazer parte do grupo mais informativo de Manaus.

Entrar no Grupo