Para algumas pequenas empresas, a última semana trouxe ainda mais reviravoltas aos últimos dois meses de tarifas do presidente norte-americano, Donald Trump.

A situação já era confusa, com interrupções e retomadas de tarifas em diferentes níveis. Então, na quarta-feira (28), um tribunal dos EUA disse que Trump ultrapassou sua autoridade ao impor a maioria dessas taxas de importação – apenas para que um tribunal de apelação, na quinta-feira (29), suspendesse a decisão do tribunal anterior.

As idas e vindas tornou o planejamento difícil para algumas pequenas empresas, disseram empresários à CNN. Em certos casos, elas consideraram mudar sua estratégia de produtos, estudar a mudança de suas cadeias de suprimentos, reduzir as horas de trabalho dos funcionários ou adiar produtos.

“Meu medo é que, se isso continuar, haverá uma extinção em massa de pequenas empresas”, disse Julie Robbins, CEO da EarthQuaker Devices, fabricante de pedais de guitarra com sede no estado norte-americano de Ohio, à CNN.

Trump anunciou tarifas globais em 2 de abril e, desde então, seus planos têm mudado regularmente.

No início de abril, ele emitiu uma pausa de 90 dias nas tarifas recíprocas em quase todos os lugares, exceto na China. Então, depois de aumentar as tarifas totais sobre as importações chinesas para 145%, ele declarou que smartphones e certos outros eletrônicos estariam isentos das tarifas recíprocas. Os EUA e a China concordaram em maio em reverter as tarifas recíprocas por 90 dias. E, no final de maio, ele ameaçou fabricantes de smartphones, como a Apple, com tarifas de 25% se eles não fabricassem seus telefones nos EUA. Ele também concordou em adiar as taxas sobre as importações da União Europeia até 9 de julho.

Essas são apenas algumas de suas mudanças, que podem ocorrer a qualquer momento do dia por meio da Casa Branca, postagens nas redes sociais ou outros canais.
O Índice de Otimismo das Pequenas Empresas da Federação Nacional de Empresas Independentes caiu 1,6 ponto em abril, ficando abaixo da média de 51 anos pelo segundo mês consecutivo. O economista-chefe da organização, Bill Dunkelberg, citou a incerteza como um “grande impedimento” para os proprietários de pequenas empresas, em um comunicado à imprensa.

“São as marcas menores, mais especializadas, as que serão realmente afetadas por isso”, disse Jack Leathem, analista da empresa de pesquisa de mercado Canalys, à CNN, em abril.

Alguns proprietários de pequenas empresas tiveram que tomar decisões difíceis ao lidar com o impacto das tarifas. EveAnna Manley, cuja empresa Manley Labs fabrica eletrônicos de alta tecnologia para estúdios de gravação, teve que reduzir em 25% as horas de trabalho de seus funcionários.

As tarifas recíprocas que a China impôs aos EUA têm sido particularmente desafiadoras, diz ela, já que a China se tornou um mercado importante para seu negócio. Manley diz que levou “décadas” para ela “conseguir os melhores importadores chineses”.

No geral, as vendas da Manley Labs caíram mais de 19% em comparação com o ano passado, disse ela à CNN, o que congelou os esforços de desenvolvimento de produtos da empresa.

“É uma bagunça total agora”, disse ela no final de maio, antes das decisões judiciais da semana passada sobre as tarifas de Trump. “E estou muito irritada porque meu próprio governo fez isso comigo.”

A melhor coisa que as pequenas empresas podem fazer agora é ser flexíveis e diversificar suas estratégias de fornecimento e aquisição, diz Tala Akhavan, diretora de operações da Pietra, uma plataforma que ajuda marcas com fornecimento, produção e logística, entre outros serviços.

É isso que a Intuition Robotics, que fabrica um robô doméstico projetado para ser um companheiro para idosos, está fazendo, de acordo com o diretor de estratégia, Assaf Gad.

A empresa também ganha dinheiro com suas contas de assinatura digital, de acordo com Gad, o que lhe dá flexibilidade para buscar um “plano B” fora da China para a produção do hardware da empresa.

Mudanças repentinas nas políticas tarifárias não afetaram realmente as decisões da empresa, porque ela está planejando para os próximos nove a 12 meses, em vez de para o curto prazo, disse ele em meados de maio.

As tarifas de Trump incentivaram Gad a pensar em expandir a Intuition Robotics para os mercados internacionais.

“Talvez este também seja um bom momento para dizer: ‘Não vamos colocar todos os ovos na mesma cesta’”, disse ele, “e, você sabe, começar a procurar outros tipos de territórios que reduzirão o risco para nós no futuro”.

Mas, para algumas empresas, encontrar um plano B não é tão fácil. É o caso de Sarah O’Leary, CEO da Willow, que fabrica bombas de sucção de leite. Como uma empresa de dispositivos médicos, a Willow não pode simplesmente transferir sua fabricação, disse O’Leary à CNN. A empresa teve que interromper a exportação de um produto que fabrica na China para recuperação pós-parto em um determinado momento porque ficou muito caro.

A decisão tomada na quarta-feira (28), com o objetivo de bloquear muitas tarifas, trouxe algum alívio, disse O’Leary em um comunicado enviado por e-mail na noite de quinta-feira. Mas ela reconheceu que ainda há “muita incerteza”, acrescentando que “o caos vai persistir”.

Quaisquer tarifas, mesmo as baixas, seriam difíceis de absorver para uma pequena empresa como a dela, disse ela em meados de maio.

“Não fabricamos nossos produtos com tanta margem”, disse ela. “E, portanto, infelizmente, estamos em uma posição em que temos que avaliar o que podemos fazer para sobreviver nessas circunstâncias.”