Da navegação às torneiras, o Rio Negro conduz a rotina em Manaus. É dele que saem mais de 700 milhões de litros de água por dia para abastecer a capital.
Segundo a Águas de Manaus, nem mesmo a seca histórica de 2023 — a pior em 121 anos — prejudicou a captação.
“A concessionária realiza avaliações diárias considerando a estiagem e a cheia, com planos de ação para cada cenário”, ressalta a empresa, responsável pelo abastecimento na cidade.
Segundo a Águas de Manaus, nem mesmo a seca histórica de 2023 — a pior em 121 anos — prejudicou a captação — Foto: Thiago Oliver
O Rio Negro, conhecido por formar o Encontro das Águas com o Rio Solimões, tem alto índice de acidez, por causa da quantidade de material decomposto presente na água. O pH do Negro varia de 3,8 a 4,9, enquanto o do Solimões fica entre 4,5 e 7,8.
No entanto, antes de chegarem aos imóveis de Manaus, os 700 milhões de litros captados do Rio Negro passam por tratamento e controle de qualidade. O engenheiro civil Semy Ferraz garante que é possível beber a água direto das torneiras sem preocupação.
“Com certeza, nós podemos beber a água da torneira com muita tranquilidade, com muita segurança, principalmente se a gente analisar a caixa d’água de cada uma dessas residências, porque a caixa d’água é responsabilidade do morador”, afirma Ferraz, especialista em Saneamento Básico e Gerente de Responsabilidade Social da Águas de Manaus.
Especialista em Saneamento Básico, o engenheiro civil Semy Ferraz garante que é possível beber água direto da torneira em Manaus
Do emaranhado ao serviço
Hoje, o serviço de abastecimento de água tratada está universalizado na capital, de acordo com a Águas de Manaus. Isso quer dizer que a água chegou a todas as zonas.
Nem sempre foi assim.
Em 1995, quando chegou à comunidade Riacho Doce 2, bairro Cidade Nova 1, Zona Norte, Elenira de Aquino Santos e a família improvisavam. “Na época, nós puxamos uma mangueira preta da rua principal, que tinha uma “encanação maluca” com várias entradas”, lembra a autônoma, que tem 53 anos de idade.
A mangueira era compartilhada com os demais vizinhos. “Não tinha briga, mas tinha aquela conversa básica com a pessoa para pegar [a torneira] de volta”, detalha.
Problema crônico nos anos 1900, a falta de água acompanhou a virada do século 20 para o 21 em Manaus.
Reportagem de 2007 mostra problema de falta de água em Manaus
O portal R6 News resgatou uma matéria veiculada pela Rede Amazônica em 2007 que mostra a realidade da época (assista, acima):
A reportagem, assinada pela então repórter Luziane Figueiredo, informava que mais 400 mil pessoas tinham “água por apenas algumas horas do dia”. A situação, segundo a matéria, tinha obrigado governo e prefeitura a decretarem emergência, no ano anterior, 2006.
Beco Nonato no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, após intervenção da Águas e Manaus — Foto: Águas de Manaus
O início dos anos 2000 marcou a entrada da iniciativa privada na cidade. A Águas de Manaus chegou em 2018, quase duas décadas depois. De acordo com a empresa, em pouco tempo de atuação, o cenário mudou.
A concessionária afirma ter investido mais de R$1 bilhão em cinco anos. “Desde que chegou em Manaus, a concessionária realizou um trabalho de mapeamento das áreas que não contavam com estrutura regular de água”, destaca. “Com isto, mais de 200 mil pessoas passaram a ter acesso ao serviço”, completa.
Em Manaus, a concessionária decidiu entrar em áreas como becos, rip raps e até palafitas, imóveis de madeira construídos com assoalho para períodos de cheia (enchente). “Nós levamos em consideração o respeito à cultura local”, ressalta o engenheiro civil Semy Ferraz.
Nesses locais, o emaranhado de mangueiras descrito pela dona Elenira deu lugar a tubulações envelopadas, chamadas de redes aéreas.
As duas montagens a seguir mostram como era antes e como ficou uma mudança de tubulação feita no bairro Compensa, Zona Oeste de Manaus:
Projeção
Para continuar captando água do Rio Negro e abastecendo Manaus, a empresa pretende investir mais R$ 1,8 bilhão nos próximos cinco anos (2023-2027).
Até 2039, esse valor deve saltar para R$ 4,4 bilhões.
Projeção de investimentos em água tratada (Manaus)
2023-2027 | 2039 |
R$ 1,8 bilhão | R$ 4,4 bilhões |