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Nesses tempos em que reinam as fake news e o cinismo, há um teste simples para separar o verdadeiro político democrata de um golpista: se ele defender a pacificação do país, desconfie.
Não que seja saudável manter o Brasil em constante clima de confronto entre correntes ideológicas. Mas uma das principais características da extrema direita é conferir a algumas expressões novo significado, que lhe é conveniente.
“Pacificar o país” é uma delas.
Por “pacificação”, na verdade querem dizer anistia aos covardes que tentaram dar um golpe de Estado e por isso foram ou serão condenados pelo Supremo Tribunal Federal. Na retórica ardilosa dessa gente, ao cumprir a lei e impor as punições previstas na Constituição aos inimigos da democracia, o STF está impedindo que o país tenha paz.
É como se o bando de Marcola criticasse a Justiça por conturbar a nação ao não permitir que o PCC exerça sossegado o tráfico de drogas.
Um desses falsos democratas que repetem a palavra “pacificação” é o presidente da Câmara, Hugo Motta, que está lutando com unhas e dentes para que os deputados tenham garantido o sagrado direito de tentar impor um golpe de Estado sem serem molestados pelo Supremo. Com seu cabelo engomado e fala mansa, Motta ofereceu aos bolsonaristas da Casa o rito sumário que permitiu a aprovação do projeto casuístico que livraria Ramagem, Bolsonaro, generais e outros figurões de serem julgados por tentar destruir as instituições republicanas na trama que resultou no 8/1.
Obviamente, o STF julgou a decisão como inconstitucional.
Não satisfeito, Motta agora volta à carga e recorre ao Supremo, insistindo no salvo-conduto para os golpistas.
“Por meio de uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), a ser julgada pelo plenário do STF, esperamos que os votos dos 315 deputados sejam respeitados”, escreveu ele, nas redes sociais. E, com a cara de pau que lhe é peculiar, completou: “A harmonia entre Poderes só ocorre quando todos usam o mesmo diapasão e estão na mesma sintonia”.
Motta quer, na verdade, que o STF adote o mesmo padrão de ilegalidade da Câmara. Só assim, segundo ele, haverá “harmonia” — uma variante da tal “pacificação”.
É bom lembrar do que ele falou sobre as invasões aos prédios dos três Poderes no 8 de Janeiro: “O que aconteceu não pode ser admitido que aconteça novamente. Foi uma agressão às instituições, uma agressão inimaginável, ninguém imaginava que aquilo pudesse acontecer”, disse o deputado. “Agora querer dizer que foi um golpe…. Golpe tem que ter um líder, tem que ter pessoa estimulando, apoio de outras instituições interessadas, como as Forças Armadas, e não teve isso”.
Recebeu como resposta uma chuva de críticas e moderou e moderou o discurso de defesa dos conspiradores. Agora, volta a botar as garras de fora.
Quando fez a postagem sobre o recurso ao STF, o presidente da Câmara não estava no Brasil, mas nos Estados Unidos. Mais precisamente em Nova York, onde participa de evento organizado pela revista Veja, com a participação de empresários, do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e outros figurões.
Ao circular pelos points da cidade, integrava uma turma da pesada. Foi fotografado em um restaurante na mesa onde estavam Ciro Nogueira, Antônio Rueda e Gusttavo Lima. No mesmo local estiveram também Guilherme Derrite e… Eduardo Bolsonaro.
Se não bastassem as manobras vergonhosas e inconstitucionais em favor dos inimigos da democracia, quem tiver alguma dúvida sobre a índole de Hugo Motta pode lançar mão daquele velho ensinamento repetido por nossas avós: se tem orelha de porco, rabo de porco e focinho de porco… é porco.
Diante desse parâmetro, não há outra definição possivel para esse personagem que age como golpista, ajuda as manobras golpistas e fica à vontade ao lado dos golpistas: Motta é um golpista.
Fonte: ICL Notícias